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BEM-VINDO À XV SEMANA DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Usos públicos da história e as ameaças politicamente incorretas

 

Na sua última obra, Rüsen faz uma pergunta retórica: a quem pertence a história? A questão se refere a um problema que tem se tornado cada vez mais evidente entre os historiadores contemporâneos, apesar de não ser uma preocupação recente. Talvez, desde Heródoto, as formas de conhecer o passado estão em permanente tensão. No entanto, o nascimento da História como ciência no final do XVIII e a emergência dos meios de comunicação ao longo do XIX, cujo ponto de inflexão teria sido a invenção do cinema, no ocaso do século, provocaram uma mudança radical nesse quadro.

Se a invenção da imprensa teve impacto na cultura histórica europeia a partir do século XVI,o que não dizer dos avanços alcançados nas artes, sobretudo da imagem e da narrativa audiovisual na era da reprodutividade técnica, como ocorreu ao longo do século XX. As mídias, sobretudo audiovisuais,tornaram-se oráculos cotidianos, por meio das quais a realidade – presente, passada ou futura – materializa-se em retóricas imagens sonoras,às vezes em espetáculo.

Acompanhando os avanços tecnológicos do século passado, os usos públicos da história tornaram-se mais acessíveis,progressivamente, a um númeromaior de pessoas. Mas, teriam esses novos artificies das memórias as mesmas habilidades para lidar com o passado que os cientistas sociais? Certamente que não! No entanto, se as obras nascidas dessas novidadestecnológicas não são confiáveis como conhecimento científico do passado, por outro lado, nos oferecem oportunidades excepcionais de interroga-lo, aprofundando nosso conhecimento sobre ele. Às vezes, revelando outros aspectos que não se poderia vislumbrar nas formas historiográficas tradicionais.

O debate sugere uma resposta a todos que estão, realmente, preocupados com a questão acima: se os historiadores e outros cientistas sociais não são os donos da história, eles são aqueles que reverenciam a verdade histórica e investigam o passado seguindo as restrições que a ciência histórica acumulou ao longo do tempo. O evento que ora realizamos tem, pois, como sua principal diretriz defender todos aqueles que, ao estudarem o passado, firmem um compromisso com a verdade histórica. Somente assim, e com um tratamento metodicamente sofisticado, o passado pode ser conhecido de forma mais elaborada, servindo como orientação à vida presente, em busca das utopias que a humanidade ainda precisa realizar.

Prof. Dr. Roberto Abdala Jr. FH-UFG

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